Bioeconomia, a chave que une produção e preservação

Embaixador Cesário Melantonio NetoDivulgação

Pilar de desenvolvimento econômico sustentável, a bioeconomia constou pela primeira vez do comunicado final do G20. Ao liderar as discussões, o governo brasileiro incluiu entendimentos sobre o tema que se associam à nova estratégia nacional.

No primeiro semestre de 2025 , o ministério do meio ambiente vai lançar o plano nacional de desenvolvimento da bioeconomia que visa fomentar as economias da floresta e da sócio biodiversidade.

Os princípios de alto nível sobre bioeconomia, publicados pelos países membros do G20 em setembro último, vão além do conceito de recurso biológico e abrangem elementos de sistemas produtivos e conhecimentos tradicionais.

Sucessora do Brasil na presidência do G20 , a África do Sul afirmou que dará continuidade à agenda.

Em junho , o governo brasileiro publicou decreto que cria a estratégia nacional de bioeconomia. A futura comissão nacional será responsável pela construção de uma política pública cuja versão final será lançada no próximo ano.

O fomento às economias das florestas e da sócio biodiversidade será um eixo. Outro é associar a bioeconomia à restauração e conservação das florestas.

Por isso, um dos objetivos da secretaria nacional é incentivar hubs no interior da Amazônia para fortalecer estruturas de pesquisas em áreas prioritárias no combate ao desmatamento e na recuperação de vegetação.

Não é possível fazer restauro em larga escala sem estruturar cadeias de negócios.

Aí entra sim e muito a bioeconomia. Devemos fortalecer ecossistemas regionais, investindo em parcerias com universidades e logística para produtos. Poderíamos igualmente acrescentar ações para facilitar a parceria entre instituições brasileiras e internacionais na Amazônia.Devemos criar um ambiente favorável, com regulamento claro , e anunciar uma rede de instituições de pesquisa de excelência em biodiversidade.

A Amazônia é um bioma pouco explorado nessa área. Metade das pesquisas sobre biodiversidade focam na Mata Atlântica. Há 77 mil pesquisas registradas sobre uso de biodiversidade brasileira, que geram produtos como medicamentos , cosméticos e insumos agrícolas.

Estamos de mudança para uma nova era , uma nova ordem mundial. O modelo de desenvolvimento nascido no século vinte, dependente de recursos naturais e baseado em combustíveis fósseis está se despedindo. Esse modelo beneficiou apenas um terço da população mundial. Precisamos olhar a natureza de outra forma, para enfrentar a crise planetária que tem três instâncias interconectadas a climática , a da biodiversidade e a do estresse hídrico.

Lançada neste ano, a plataforma digital da floresta conecta produtores amazônicos a compradores de todo o Brasil, iniciativa que visa acelerar esse ambiente de negócios.

Na presidência do G20, o Brasil deu um passo muito importante, alinhado com a contemporaneidade, ao fazer do clima um dos temas principais da agenda. Isso põe o clima no lugar que merece , pois está ligado à economia, à inovação e à democracia. Foi inovador e muito positivo incluir o clima na pauta do financiamento. Outro ponto importante foi a decisão de estabelecer os princípios da bioeconomia. Mas o encontro do G20, assim como as COPs , também são uma oportunidade para o Brasil estabelecer a imagem de provedor de soluções.

O BioConex, lançado em janeiro, tem 25 cooperativas habilitadas de oito cadeias produtivas, como açaí, cacau e castanha. A plataforma ainda traz uma central de logística de dois mil operadores da Amazônia, com fretes para qualquer lugar do Brasil e até mecanismos de financiamento ao comprador.

Devemos apostar nesse mercado de 40 mil indústrias da Amazônia, com destaque as cadeias de cosméticos, fármacos, alimentos e bebidas. Precisamos aproveitar mais as oportunidades que a Amazônia oferece ao Brasil. Tem de ter mais apoio e financiamento e as políticas públicas precisam considerar as especificidades das cadeias em cada região.

Não pode ser uma ação genérica, porque a Amazônia é complexa por natureza.

A questão climática pode ser uma alavanca e não um entrave para o Brasil. Mas é preciso serenar os ânimos e convergir .Não apenas o governo , mas o Congresso, os empresários, a sociedade como um todo . Construir uma governança climática é um desafio de todos e precisa de ambição, aderência e realismo.

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