
Entre os que afirmaram ser heterossexuais foram 1.185. Levantamento considera candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador de 31 cidades. Bandeira LGBT
Pixabay
Pela primeira vez, os concorrentes às Eleições Municipais de 2024 puderam indicar orientação sexual e identidade de gênero em seus perfis de candidatura. Apesar da novidade, dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a adesão ao marcador é baixa na região de Campinas (SP).
Dos mais de 5,6 mil candidatos registrados para o pleito deste ano, apenas 51 se declararam parte da comunidade LGBTQIAP+. Enquanto isso, 4,3 mil não informaram nem se são heterossexuais e 782 omitiram se são cis ou trans.
O levantamento realizado pelo g1 inclui candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador das 31 cidades da área de cobertura. A reportagem também conversou com o diretor de políticas públicas da Aliança Nacional LGBTI, Cláudio Nascimento, sobre a relevância desses indicadores.
Números
Nas declarações sobre orientação sexual, que se referem à forma como nos relacionamos, os candidatos podiam informar se são heterossexuais, homossexuais (gays ou lésbicas), bissexuais, assexuais ou pansexuais.
Já com relação à identidade de gênero, os concorrentes poderiam se definir como cisgênero ou transexuais (entenda aqui o que significa cada termo). Em ambos os casos também era possível optar por não divulgar a informação.
19 pessoas transexuais: que se identificam com um gênero diferente do atribuído no nascimento
16 homens gays: que se identificam como masculinas e se relacionam com outras do mesmo gênero
7 bissexuais: que se relacionam com os gêneros femininos e masculinos
6 lésbicas: que se identificam como femininas e se relacionam com outras do mesmo gênero
2 pansexuais: que se relacionam com outras de todos os gêneros, incluindo femininos, masculinos e não-binários
1 assexual: que não têm atração sexual
Tabu muito além das eleições
Em cinco cidades, nenhum candidato declarou a orientação sexual – não responderam nem mesmo se são heterossexuais. São elas Estiva Gerbi, Holambra, Santo Antônio de Posse, Santo Antônio do Jardim e Serra Negra.
Para Cláudio, que também é presidente do Grupo Arco-íris de Cidadania LGBTI do Rio de Janeiro, o desinteresse dos candidatos em fazer essas declarações pode ser explicado por um tabu histórico e que está diretamente ligado à desinformação.
“Existem ainda diversos preconceitos e dificuldades de compreensão acerca da sexualidade e que acabam interferindo objetivamente, por exemplo, em busca de dados […] Poucas pessoas nas suas famílias, nas suas vidas, têm uma discussão, um diálogo sério, profundo, sem ironia, sem brincadeiras, sem preconceitos sobre a sexualidade humana, sobre as diversas expressões e identidades de orientação sexual”.
Uma consequência disso é a questão de “muitos não terem uma compreensão efetivamente do que seja homossexual, bissexual e heterossexual. Então, na dúvida, é melhor não preencher. Na dúvida do seu eleitor ou na dúvida dos seus apoiadores, é melhor não preencher. Muitos também preferem se omitir desse dado para evitar qualquer dúvida acerca da sexualidade”.
Pode melhorar nos próximos anos?
Nascimento ressalta, porém, que esse cenário pode, sim, melhorar daqui para frente. Afinal, essa é a primeira vez que esse dado é inserido no sistema do Tribunal Superior Eleitoral de maneira tão evidente. “Então, é natural que a gente, na primeira eleição, não tenha todos os dados preenchidos por todos os candidatos, ainda é um processo cultural que vai levar um tempo”.
“É uma vitória importante para a comunidade LGBT, por exemplo, para que a gente comece também a medir a participação da comunidade LGBT+ no processo eleitoral, para que a gente inclusive possa atuar na ampliação da nossa presença e buscar também nos partidos políticos”.
Ele destaca, no entanto, que “a gente vai precisar debater mais a questão de sexualidade, gerar mais informação sobre o assunto, quebrar tabus em relação a esse debate, entender que não é uma questão religiosa, que não pode ser mediada por discussões religiosas, e que, sim, é simplesmente qual que é a orientação sexual e a identidade de gênero da pessoa, e ponto”.
Voto com orgulho
Cláudio é coordenador do programa “Voto com Orgulho!”, uma iniciativa da Aliança Nacional LGBTI, em parceria com o Grupo Arco-Íris de Cidadania, que busca estimular a presença de candidaturas LGBTQIAP+ e de pessoas aliadas da causa – que não são parte da comunidade, mas estão alinhadas ao propósito de defender a pauta.
Ao longo das últimas quatro eleições, como parte das iniciativas do projeto, a entidade abriu um formulário on-line para mapear esses candidatos. Em 2020, o grupo conseguiu rastrear a eleição de ao menos 100 pessoas vereadoras LGBTI+. O cadastro permanece aberto e a expectativa é de que contribua com esse levantamento em âmbito nacional.
Entenda o que significa cada letra da sigla LGBTQIAPN+
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