
Jogo substitui as peças convencionais do xadrez por personagens quilombolas. Prêmio ‘Professor Porvir’ recebeu 951 inscrições de projetos educacionais de todo o país. ‘Xadrez quilombola’ resgata ancestralidade dos quilombos de Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Um projeto desenvolvido por goianos foi reconhecido como um dos 10 projetos da educação mais inovadores do Brasil, na 2ª edição do Prêmio Professor Porvir. Com o intuito de resgatar a ancestralidade e contar a história dos quilombos em Goiás, o jogo recria o xadrez tradicional, mas substitui as peças convencionais por personagens quilombolas.
O Xadrez Quilombola é uma iniciativa do professor Luiz Carlos Silva Júnior, do programa GoiásTec, e da professora Gisele Andrade da Silva, do Colégio Estadual Júlio César Teodoro, em Flores de Goiás, na região central do estado.
Os educadores transformaram a rainha em Dandara, uma guerreira negra que resistiu aos ataques ao seu quilombo. O rei se tornou Ganga Zumba, o primeiro rei do Quilombo dos Palmares. O bispo é Zumbi dos Palmares, uma das figuras mais simbólicas da luta contra o processo de escravização no Brasil. Os peões foram representados por pessoas escravizadas.
O projeto venceu a categoria “Ensino fundamental – anos finais”. Em entrevista ao g1, a professora e quilombola Gisele Andrade contou que a ideia do projeto surgiu durante um encontro presencial do programa GoiásTec, quando conheceu o professor Luiz Carlos.
“Juntos tivemos a ideia de criar o Xadrez Quilombola, ele que já tinha experiência em jogos educativos e eu em contar contar e resgatar a cultura da comunidade”, relembrou.
Estudantes participam do desenvolvimento do ‘Xadrez Quilombola’, em Flores de Goiás
Reprodução/Acervo pessoal
Educação e resgate cultural
Quilombo Canabrava, em Flores de Goiás
Reprodução/Acervo pessoal
O professor Luiz Carlos detalhou sobre como o jogo foi criado, junto à comunidade quilombola de Canabrava, com seus costumes, tradições e valores. Segundo ele, os alunos fizeram parte do resgate da cultura do local e contribuíram para a conservação ambiental com a reutilização de materiais.
“Os estudantes, junto com artesãos e as costureiras locais, puderam utilizar restos de semente, restos de casca e retalhos de pano”, pontuou.
Além disso, os envolvidos adquiriram conhecimento nos componentes curriculares de educação física, matemática, história e geografia. “De uma forma lúdica e divertida, atendendo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, destacou o professor.
Segundo Gisele, o projeto foi desenvolvido desde quando surgiu a ideia, em março de 2024. Na execução, participaram três alunos do 9° ano da Escola Municipal de Canabrava: Bruna da Silva Lima, Júlia Lopes da Cunha e Vitor Hugo Rodrigues da Cunha. A comunidade quilombola participou na elaboração do tabuleiro e na execução das personagens.
Escola recria xadrez com símbolos de resistência dos povos escravizados
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Premiação
Professores Gisele Andrade e Luiz Carlos, desenvolvedores do ‘Xadrez Quilombola’, em Goiás
Reprodução/Redes sociais
O Prêmio Professor Porvir, da organização sem fins lucrativos de mesmo nome, celebra iniciativas que transformam o ambiente escolar e que inspiram alunos e professores a serem protagonistas de mudanças sociais.
De acordo com a organização, a premiação reconhece práticas inovadoras na educação básica brasileira, “focadas na conexão com a realidade dos estudantes e das escolas onde são implementadas”.
Entre junho e dezembro de 2024, o prêmio recebeu 951 projetos de educadores de todo o Brasil. Após um processo de seleção, 30 finalistas foram escolhidos. Posteriormente, 10 projetos se consagraram como vencedores, entre eles, está o Xadrez Quilombola.
“Ter oportunidade de participar do prêmio e ser selecionado entre quase mil projetos inscritos, ficar entre os 30 melhores e agora ser considerado vencedor, vem para coroar um trabalho de muito suor e de muita luta do quilombo”, disse Luiz.
Para Gisele, a premiação representa o amor que carrega pela educação e pelo quilombo. “É muito importante, é uma reconhecimento não somente da escola, mas principalmente da comunidade, daquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de irem a escola e estão sendo reconhecidas pela história dos seus ancestrais”, ressaltou.
Segundo a organização, todos os premiados são contemplados com um livro digital que reúne os relatos dos projetos vencedores e com o selo “Professor Porvir”, o que os torna influenciadores da educação.
Além disso, os ganhadores recebem um convite especial para o “Encontro com o Porvir”, evento anual que reúne educadores, especialistas e entusiastas da educação. Com direito a passagem e hospedagem com todas as despesas pagas, Luiz Carlos e Gisele Andrade vão receber em mãos a premiação, em São Paulo, em maio de 2025.
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