Os “Betas” crescem em meio a um paradoxo: ao mesmo tempo em que a tecnologia avança ao ponto de se tornar onipresente, favorecendo a dependência digital, a crescente conscientização sobre o uso nocivo das telas se reflete em novas leis de regulamentação que podem limitar os efeitos negativos da tecnologia no dia a dia. É a análise de especialistas ouvidos pela reportagem de A Tribuna. Para o psiquiatra João Paulo Cirqueira, os nascidos entre 2025 e 2039 têm a oportunidade de crescer com mais controle do uso excessivo de telas, embora o caminho seja desafiador. “A geração Beta tem o potencial de sofrer menos com a dependência digital, graças à maior conscientização social, à regulamentação do uso de telas em ambiente escolar e à educação digital, por exemplo. Esse cenário pode preparar essa geração para um futuro resiliente, em que a tecnologia seja um instrumento de progresso, e não de dependência”.A psicóloga Rachel Borges acredita que os “Betas” vão enfrentar a dependência digital como um desafio frente a um mundo cada vez mais tecnológico. No entanto, por outro lado, aponta vantagens importantes para a conscientização do uso das telas. “Acredito que eles irão lidar com mais naturalidade diante do mundo digital. O que já conseguimos aprender sobre os riscos e as consequências do uso inadequado das tecnologias será repassado para a próxima geração. Se considerarmos ao longo dos anos, cada vez mais as pessoas têm buscado cuidar da saúde mental, e, dessa forma, os ‘Betas’ tendem a ser pessoas que irão buscar ajuda profissional”.Desde muito cedo as crianças da geração Beta estarão expostas a conceitos como economia circular, consumo consciente e energia renovável, o que favorece a construção de uma mentalidade coletiva e voltada às preocupações globais.É o que aponta a doutora em Educação Edna Tavares. Ela pontua os desafios dessa mudança no cenário global para a educação e opina o que será exigido para as escolas nos próximos anos. “A escola precisará buscar a interação com a sociedade e adotar modelos ou ações para uma educação mais cooperativa, colaborativa e que siga um viés global, pensando num mundo mais equilibrado, justo e menos egoísta. É preciso possibilitar métodos educacionais alternativos e ferramentas tecnológicas que aproximem as crianças do mundo real”.Adaptação
Luca Marins Rampinelli
| Foto:
Fábio Nunes/AT
Como pertencente à geração Z, o técnico em meio ambiente Luca Marins Rampinelli, de 19 anos, acredita que lidar com as transformações no mundo do trabalho e na educação serão os principais desafios nos próximos anos. “Sinto que a minha geração não tem um preparo ideal para lidar com os efeitos da transformação digital”, observou.Uso consciente de tecnologiasCom o avanço acelerado da tecnologia, especialistas destacam que a palavra-chave para moldar a geração Beta será “equilíbrio” para lidar com a inovação constante sem abrir mão do bem-estar emocional. A educação precisará se reinventar e dar enfoque ao uso consciente de tecnologias. É o que analisa a doutora em Educação Edna Tavares. Para ela, os nascidos a partir de 2025 trazem consigo desafios únicos para as relações humanas e o aprendizado. “A geração Beta vai precisar de atenção especial no que se refere às relações interpessoais, apoio emocional e educação com mais foco no uso consciente da tecnologia. A palavra-chave e norteadora será ‘equilíbrio’ com inovação e bem-estar humano”.A doutora em Educação analisa que as escolas devem apostar em modelos personalizados de educação que atendam às necessidades individuais e promovam habilidades, como o gerenciamento de conflitos.“As escolas precisarão buscar ainda mais atender alunos em suas necessidades individuais, com um modelo de ensino mais personalizado, e criar situações que possam motivar o gerenciamento de conflitos por meio do diálogo e da troca de ideias. Gerenciar conflitos é um grande desafio atualmente e tende a crescer”, destaca.Análise“Grande demanda tecnológica pode aumentar risco de ansiedade e de isolamento social”, Cristiano Tavares Pereira – coordenador de Recursos Humanos da Eco101 “A geração Beta possui um grande potencial e dominará ferramentas ultrapotentes, capazes de influenciar a nossa vida e o mercado de trabalho, como é o caso da inteligência artificial, das redes sociais e da interações 100% on-line. Isso tem impacto direto nas possibilidades de tratativas interpessoais e nas formas de pensar e de aprender. Embora tragam benefícios para essa nova geração, a facilidade e o acesso rápido às inovações representam desafios constantes, já que agilidade e resposta rápida serão habilidades necessárias. A grande demanda tecnológica pode aumentar o risco de ansiedade e de isolamento social e ainda ampliar a dependência digital. Além disso, a geração Beta enfrentará um mercado em constante transformação, que exige iniciativa, criatividade e soluções humanizadas para superar os problemas. Precisamos estar atentos ao uso das habilidades tecnológicas, sem esquecer do desenvolvimento emocional”.
Gerações
| Foto:
Tabela