Legendas como União Brasil, Republicanos, PSD e PP têm ministérios, mas não são 100% fiéis a Lula. Presidente cobrou ministros, mas integrantes não cravam apoio em 2026. O movimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de tentar atrair partidos do Centrão para a base aliada no Congresso vem desde 2023. A questão é um problema para o governo desde que o petista assumiu este terceiro mandato, em um contexto desafiador no Legislativo.
Isso porque a “base fiel” de Lula — composta por exemplo por partidos como PT, PSB, PCdoB e PSOL — é formada por apenas cerca de 130 dos 513 deputados.
A chave para tentar reverter o cenário adverso inclui conquistar aliados no Centrão, nome como é chamado o bloco informal de partidos que não são totalmente alinhados à esquerda ou à direita.
🔎 Esses partidos integraram, por exemplo, os governos Dilma Rousseff, Michel Temer, Jair Bolsonaro e agora estão com Lula. Mesmo assim, o fato de essas legendas comandarem ministérios não significa que sejam efetivamente da base.
Conforme a discussão, os votos desse bloco podem corresponder até à metade do total de parlamentares, e serem decisivos na aprovação ou rejeição de uma matéria (entenda mais abaixo).
Lula diz que governo não pode ‘inventar nada’ durante reunião ministerial
Na última segunda-feira (20), durante reunião ministerial, Lula comentou a relação do governo com o Congresso e fez um comentário que foi visto, entre analistas, como um recado ao Centrão.
“Eu quero conversar com vocês sobre os partidos que estão alinhados conosco. Temos vários partidos políticos, eu quero que esses partidos continuem junto, mas estamos chegando no processo eleitoral e a gente não sabe se os partidos que vocês representam querem continuar trabalhando conosco ou não”, ponderou o petista.
Ministros, parlamentares e até presidentes de partidos do Centrão ouvidos pela GloboNews dizem, no entanto, que apesar da cobrança pública de Lula não é possível cravar, neste momento, que as legendas estarão com o presidente em 2026.
Mesmo assim, informações de bastidor dão conta de que as siglas têm cobrado do presidente mais ministérios na Esplanada.
Mesmo após ‘indireta’ de Lula, partidos do Centrão com cargos no governo não cravam apoio ao presidente em 2026
Palácio do Planalto e Congresso Nacional, em Brasília
Ricardo Stuckert/PR
Ainda na eleição de 2022, o então candidato Lula costumava dizer em seus discursos que deveria governar com o Congresso que fosse eleito.
Iniciado o novo governo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez chegar ao Palácio do Planalto diversos alertas sobre a necessidade de o governo reorganizar a base.
Mas, afinal, Lula precisa do Centrão no governo?
Conforme os números informados no site oficial da Câmara, as atuais bancadas dos partidos podem ser divididas da seguinte maneira:
Base ‘fiel’ a Lula: cerca de 1/4 da Câmara (cerca de 130 deputados);
Partidos do Centrão: cerca de 2/4 da Câmara (cerca de 250 deputados);
Oposição a Lula: cerca de 1/4 da Câmara (cerca de 130 deputados).
Para aprovar projetos de lei, por exemplo, são necessários 257 votos.
Isto quer dizer que o governo, para aprovar projetos, precisa contar com o apoio de cerca de 130 votos de partidos que não integram a base “fiel”, mas, em tese, podem votar com o governo por ocupar ministérios.
Para este ano, por exemplo, o governo quer aprovar os projetos de regulamentação da reforma tributária sobre a renda e de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Quando a votação é de proposta de emenda à Constituição (PEC), o cenário é ainda mais difícil: são necessários 308 votos na Câmara, em dois turnos de votação.
Nesse cenário, o governo precisa contar com o apoio de cerca de 180 votos de deputados de partidos do Centrão.
Comportamento dos partidos
O PSD, por exemplo, tem ministério no governo Lula, mas integra o governo de Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) em São Paulo, que foi ministro de Bolsonaro e é visto como potencial pré-candidato a presidente em 2026.
O mesmo acontece com o União Brasil, que comanda ministérios, mas tem o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, como opositor de Lula e que também aparece como possível nome no ano que vem.
O PP, por sua vez, tem ministério no governo Lula, mas o presidente da sigla, Ciro Nogueira, faz oposição ao presidente e é apoiador de Bolsonaro, de quem foi ministro da Casa Civil.