Levantamento feito pelo g1 inclui policiais da ativa e policiais da reserva. Dos 19 mortos, 18 foram vítimas de violência urbana, e 1 foi morto pela esposa. Dezenove policiais foram assassinados no Ceará entre janeiro e dezembro de 2024
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Dezenove policiais militares, entre agentes da ativa, da reserva e ex-policiais, foram assassinados no Ceará entre janeiro e dezembro de 2024. Do total, cinco foram assassinados na região do Grande Pirambu, em Fortaleza, o que corresponde a um quarto das mortes.
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Dos 19 mortos, 18 foram vítimas de violência urbana, mortos enquanto trabalhavam ou vítimas de assaltos e emboscadas. Já o último PM morto em 2024, o cabo Wagner Sandys, foi morto pela própria esposa em um caso investigado como motivação conjugal.
Dos 18 mortos no contexto da violência urbana, 15 eram policiais da ativa, enquanto três haviam sido expulsos da Polícia Militar nos últimos anos ou estavam na reserva.
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O presidente da Associação de Profissionais de Segurança do Ceará (APS), Cleyber Araújo, atribui o número de mortos à atuação de facções criminosas no estado. “O estado fechou os olhos, não fortaleceu a Polícia Civil, que é quem de fato tem uma competência maior de combater as facções criminosas, já que elas são organizadas”, afirma.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) informou que existe uma delegacia especializada em investigar crimes dolosos contra a vida de agentes de segurança pública em Fortaleza. A secretaria contabilizou um total de 16 policiais militares mortos em 2024, número que não inclui os três militares mortos que estavam ou na reserva ou que foram expulsos da corporação.
“A pasta ressalta que emprega todos os recursos disponíveis nas Forças de Segurança do Estado para capturar os suspeitos de participação nos casos de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), bem como elucidar as circunstâncias dos crimes”, disse a secretaria. (Veja na nota na íntegra abaixo)
Mortes de policiais militares no Ceará em 2024
A pasta destacou que, desde 2020, foi instituída pelo Comando da Polícia Militar uma capacitação para os profissionais da segurança com orientações e protocolos de sobrevivência policial em situações de riscos durante os períodos de folga.
Policiais mortos no Ceará de janeiro a dezembro de 2024:
21 de janeiro – Policial militar Félix Batista de Almeida Neto, de 35 anos, foi morto a tiros durante uma tentativa de assalto no Bairro Demócrito Rocha, em Fortaleza. O militar era lotado no Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio).
21 de janeiro – Soldado da Polícia Militar Jean Rodrigues Granjeiro, 28 anos, morreu baleado durante uma ocorrência na cidade de Ubajara. Posteriormente, a polícia descobriu que o tiro que matou o militar partiu da arma de outro agente que estava na ocorrência. Dois criminosos também morreram na ocorrência.
12 de fevereiro – Soldado Bruno Lopes Marques, de 27 anos, estava de folga quando foi morto a tiros em um bar na Avenida Pasteur, no Bairro Carlito Pamplona, na região do Grande Pirambu, em Fortaleza. Menos de uma semana após o crime, dois suspeito foram presos.
15 de março – Tenente da reserva da Polícia Militar Francisco Luiz Rodrigues de Lima, de 58 anos, morreu após trocar tiros com suspeitos de uma série de assaltos no Bairro Vila Peri, em Fortaleza. Três suspeitos foram presos.
22 de março – Cabo Geldson Coelho de Araújo estava de folga quando foi morto a tiros durante um assalto em uma hamburgueria na Rua João Sorongo, no Bairro Jardim América, em Fortaleza.
3 de abril – Terceiro sargento Antônio Carlos Sousa, de 45 anos, assassinado a tiros enquanto trafegava de moto na Rua Vitória Régia, no Bairro Parque Santa Rosa, em Fortaleza. O agente estava à paisana, a caminho do quartel, quando foi atingido pelos disparos e morreu no local. Dois suspeito do crime foram presos.
9 de maio – Sargento Geilson Pereira Lima, de 49 anos, foi morto a tiros dentro de um frigorífico, em Icó, no interior do Ceará. O policial estava de folga no momento do crime. O policial tinha antecedentes por três crimes de ameaça.
12 de maio – Cabo José Heliomar Adriano de Souza Filho, de 42 anos, foi morto a tiros na calçada de um bar na Rua Desembargador Hermes Paraíba, no Bairro Vila Velha, na região do Grande Pirambu, em Fortaleza. O crime aconteceu na frente de uma equipe da Polícia Militar que passava pelo local. O cabo José Heliomar estava afastado das funções pela Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD), que instaurou um Conselho de Disciplina para investigar a conduta dele e de outros quatro agentes que foram baleados na região da Barra do Ceará, na capital, em fevereiro deste ano.
21 de maio – Cabo José Hélio Ribeiro, conhecido como Doquinha, de 69 anos, da reserva remunerada, foi morto a tiros ao reagir a um assalto na Avenida D, no Bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza.
26 de maio – Sargento da reserva remunerada da Polícia Militar João Genival Martins, de 54 anos, foi morto a tiros no município de Porteiras, na região do Cariri cearense. O agente estava na condição de agregado, afastado da corporação desde 2011. Ele tinha antecedentes criminais por homicídio, violência doméstica e outros crimes. No momento do ocorrido, ele usava tornozeleira eletrônica.
11 de junho – O 1º sargento Flávio Nascimento Rodrigues foi morto durante uma tentativa de assalto no bairro Olavo Oliveira, em Fortaleza. Flávio era membro do CPRaio e estava de folga no momento do crime. Ele estava de carro e foi abordado por criminosos. Ao reagir, o militar foi baleado pelos assaltantes.
13 de julho – O soldado David dos Santos Silva, de 30 anos, era natural de São Paulo e estava na Polícia Militar do Ceará há dois anos. Ele foi morto a tiros e com um golpe de machado em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
25 de julho – O ex-policial militar Antônio Valério Uchôa Neto, de 62 anos, foi morto a tiros na região do Grande Pirambu. Valério havia sido expulso da Polícia Militar em agosto de 2013. À época, ele respondia judicialmente por dois homicídios e lesão corporal.
16 de setembro – O subtenente Francisco Nazereno Moura Lopes, de 54 anos, foi morto a tiros dentro de casa, no bairro Barra do Ceará, na região do Grande Pirambu, em Fortaleza. O militar estava de folga e teve a casa invadida por criminosos. Nazareno estava na Polícia Militar desde 1994.
21 de setembro – O subtenente Celestino Cursino de Abreu Filho, de 48 anos, foi morto a tiros em uma comunidade no bairro Praia do Futuro, em Fortaleza, enquanto estava de folga. Ele estava na Polícia Militar desde 1993. Dois adolescentes foram apreendidos por suspeita de envolvimento na morte do militar.
11 de outubro – O ex-cabo da PM José Sebastião Ribamar Guimarães Gonçalves, de 62 anos, foi morto a tiros na região do Grande Pirambu. Ele tinha antecedentes criminais por homicídio doloso e havia sido expulso da Polícia Militar.
9 de dezembro – O soldado Antônio Almir Pereira Mota Filho, de 29 anos, foi baleado na cabeça por dois criminosos enquanto fazia uma patrulha na cidade de Boa Viagem, interior do Ceará. Ele passou três dias internado, mas veio a óbito. Os dois suspeitos foram encontrados no mesmo dia do crime e, conforme a Polícia Militar, morreram em confronto com os policiais que tentavam prendê-los.
17 de dezembro – O soldado Alexandre Emanuel Freire Pinto, de 28 anos, estava na Polícia MIlitar desde 2017 e era membro do CPRaio. Ele foi baleado e morreu durante uma operação policial em Itapipoca, no interior do Ceará. Durante a troca de tiros, três criminosos também morreram.
23 de dezembro – O cabo Wagner Sandys Pinheiro de Lima, de 37 anos, foi morto a tiros pela própria esposa no bairro Granja Lisboa. O agente teria sido morto durante uma briga motivada por ciúmes.
Em 2025, a primeira morte de um policial foi registrada no dia 15 de janeiro. Foi o subtenente Francisco Ricardo Silveira Neto, de 51 anos, que atuava no Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur). Ele foi atacado na rua por criminosos armados e morto com dezenas de tiros.
Violência no Grande Pirambu
Em julho de 2024, um grupo de policiais militares foi preso por suspeita de atuar como uma milícia na região do Grande Pirambu. Eles eram suspeitos de crimes como homicídios, extorsões, tráfico de drogas e comércio ilegal de arma de fogo .
Conforme a Controladoria Geral de Disciplina (CGD), a atuação criminosa desses policiais os teria colocado em rota de colisão com outros criminosos da região, o que teria acarretado na morte de outros policiais, não necessariamente envolvidos no grupo.
O órgão destaca os meses de fevereiro e maio de 2024 como período de atuação do grupo criminoso composto pelos policiais – justamente o período no qual foram assassinados os soldados Bruno Lopes Marques e José Heliomar Adriano, este último investigado pela CGD.
Em julho, Antônio Valério, policial expulso da corporação, também foi morto em uma via pública da região. Em setembro, o subtenente Francisco Nazareno foi assassinado dentro de casa. Em outubro, o ex-cabo José Sebastião também foi morto em uma rua do Grande Pirambu.
Viatura da Polícia Militar do Ceará
José Leomar
Conforme Cleyber Araújo, presidente da APS, há um número crescente de policiais moradores do Grande Pirambu que se sentem ameaçados.
“Uma grande quantidade de policiais moram lá desde a infância e resistem em sair”, diz Cleyber. “Um cidadão quando é expulso de casa, existe um sentimento de revolta lá. Imagina quando é um agente de segurança pública”.
Cleyber afirma não acreditar que exista um grupo armado de policiais atuando como criminosos no Grande Pirambu, a despeito das prisões por formação de milícia na região e das investigações apontaram para a existência destes grupos.
“Lá está uma briga muito grande. Quem domina a região lá é o Comando Vermelho”, afirma. “Eu não acredito que tenha milícia. Acho que eles estão sendo se reunindo para se defender”.
O que diz a Secretaria de Segurança
Por meio de nota, a SSPDS afirmou que já foram concluídas 10 investigações das 16 abertas pelos assassinatos dos militares, e outras seis seguem em andamento.
Confira a nota na íntegra:
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS/CE) informa que os crimes contra a vida de servidores das Forças de Segurança do Ceará ocorridos em Fortaleza são investigados pela 11ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), unidade especializada em investigar crimes dolosos contra a vida e latrocínios praticados em desfavor de agentes de segurança pública do Estado. Já as ocorrências em outras cidades ficam sob a responsabilidade das delegacias da região. Vale ressaltar que o índice de resolutividade da 11ª Delegacia do DHPP é de 76.9%.
A SSPDS e suas vinculadas Polícia Civil e Polícia Militar do Ceará (PMCE) reiteram ainda que não medem esforços para elucidar os casos, bem como identificar, localizar e prender os suspeitos das ações criminosas. Em 2024, de janeiro a dezembro, ocorreram 16 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) contra policiais militares, sendo que dez das vítimas estavam de folga e um afastado.
Desse total, dez casos ficaram sob responsabilidade da 11ª Delegacia do DHPP. Das dez investigações, oito foram concluídas e remetidas ao Poder Judiciário com prisões. As outras duas seguem em investigação. Dos outros seis casos, dois foram concluídos e remetidos à Justiça com indiciamentos e quatro estão com investigações em andamento.
Ainda a respeito dos dados, a SSPDS esclarece que eles são processados pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança (Supesp), instituição vinculada à Secretaria. A SSPDS/CE destaca ainda que os profissionais da segurança são capacitados acerca de protocolos de sobrevivência policial em situações de riscos durante os períodos de folga.
A iniciativa, denominada de Instruções de Táticas Individuais (ITIs), foi instituída em 2020 pelo comando-geral da PMCE. A capacitação tem o objetivo de orientar os PMs sobre como devem agir em ações preventivas, em procedimentos ao sair de casa, no manuseio de armas de fogo e algemas, posições táticas, além de orientações básicas e treinamentos voltados para técnicas de sobrevivência policial em veículos próprios e em deslocamento a pé.
A pasta ressalta que emprega todos os recursos disponíveis nas Forças de Segurança do Estado para capturar os suspeitos de participação nos casos de CVLI, bem como elucidar as circunstâncias dos crimes. A população também pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais.
As denúncias podem ser feitas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, por onde podem ser encaminhadas as informações. As denúncias podem ser feitas ainda pelo (85) 3257-4807, do DHPP. O sigilo e o anonimato são garantidos
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