Dólar opera próximo da estabilidade em dia de posse de Trump

O dólar iniciou a segunda-feira (20) próximo da estabilidade, com os investidores à espera da posse de Donald Trump como presidente dos EUA, que será nesta tarde, e também com a realização de dois leilões de dólares no Brasil, que oferecerão US$ 2 bilhões ao mercado.Às 9h06, o dólar à vista subia 0,06%, cotada a R$ 6,0689. Na sexta-feira (17), o dólar subiu 0,16%, cotado a R$ 6,064, e a Bolsa teve forte alta de 0,92%, aos 122.350 pontos.O leilão de dólares, o primeira do tipo sob o comando de Gabriel Galípolo, ocorrerá sob a modalidade chamada leilão de linha, quando o BC vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado.Em comunicado divulgado nesta sexta-feira (17), o BC afirmou que as propostas serão acolhidas das 10h20 às 10h25 de segunda para o primeiro e das 10h40 às 10h45 para o segundo. As operações de venda da autarquia serão liquidadas na quarta-feira (22) e as operações de compra, em 4 de novembro e 2 de dezembro, respectivamente.A sessão de sexta-feira foi marcada pela expectativa pela posse de Trump e por falas do ministro Fernando Haddad (Fazenda) em entrevista à CNN Brasil.O republicano assume a Casa Branca nesta tarde, e a expectativa do mercado é sobre a política tarifária do novo governo em relação às demais economias globais.Enquanto ainda era candidato, Trump prometeu aplicar tarifas de 10% sobre as importações globais, além de outras de 60% para chinesas e de 25% para canadenses e mexicanas. Segundo especialistas em comércio, as medidas afetariam os fluxos comerciais, aumentariam custos e provocariam retaliações.O indicado de Trump para o comando do Departamento do Tesouro, Scott Bessent, foi ouvido pelo Senado na quinta-feira. A expectativa de analistas é que ele, um veterano de Wall Street, leve uma abordagem mais cautelosa para as políticas do novo governo.Bessent defendeu que o dólar continue sendo a moeda de reserva global e argumentou que a implementação de tarifas poderia ser um meio para se combater práticas comerciais injustas no exterior e uma ferramenta de negociação.Mas o principal temor do mercado em relação à política tarifária de Trump é sobre o efeito na economia doméstica dos Estados Unidos.As tarifas têm potencial inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. E, quanto mais altos os juros por lá, melhor para o dólar, que se torna mais atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro dos EUA crescem.O Fed, na última reunião de política monetária, em dezembro, sinalizou a possibilidade de uma interrupção no ciclo de afrouxamento. A taxa hoje está na banda de 4,25% e 4,5%, depois de três cortes em 2024 que somaram 1 p.p.Na quarta-feira, dados de inflação indicaram uma desaceleração nos preços ao consumidor em dezembro, o que aproxima a autoridade monetária da meta de 2%. Ainda assim, há um consenso entre os operadores de que o Fed manterá as taxas de juros inalteradas na reunião deste mês, entre 28 e 29 de janeiro.A probabilidade de uma manutenção marca 99,5% na ferramenta CME Fed Watch, e os 0,5% restantes precificam um novo corte de 0,25 p.p.”Continuamos vendo o dólar como fundamentalmente supervalorizado, mas, pelo menos no curto prazo, é difícil encontrar catalisadores que façam com que o dólar se enfraqueça”, disse Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management.A China também foi destaque. A segunda maior economia do mundo apresentou uma expansão acima do esperado no quarto trimestre do ano passado e atingiu a meta de crescimento do governo de 5% para 2024.O resultado foi creditado à “introdução oportuna do pacote de políticas de apoio” no final do ano, que levou o crescimento do último trimestre a 5,4%. Outros dados divulgados apontam que o crescimento industrial em 2024 foi de 6,2% e que as vendas no varejo aumentaram 3,7% em dezembro, acima das estimativas de mercado.O dado deu impulso às ações da Vale no Ibovespa, que subiram % na esteira da valorização do minério de ferro na Bolsa de Dalian.Por aqui, o destaque foi a entrevista do ministro Fernando Haddad à CNN Brasil.O chefe da ala econômica do governo disse não enxergar um cenário de dominância fiscal no momento —termo usado para quando o BC (Banco Central) perde o controle sobre a trajetória da inflação em razão de uma forte expansão dos gastos públicos.Segundo Haddad, a política monetária terá efeitos sobre a inflação muito maiores do que o esperado. Ele também afirmou que dólar a R$ 6 é caro, considerando os fundamentos do país, e que a cotação mais adequada para a moeda seria em torno de R$ 5,70.Além disso, o ministro disse que é preciso criar condições necessárias para que os juros, hoje em 12,25% ao ano, não fiquem em um patamar elevado por muito tempo, e que a atual trajetória da dívida pública preocupa o governo.Em dezembro, o Tesouro Nacional projetou que a dívida bruta do Brasil pode atingir um pico de 83,1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2028, caso o Executivo falhe em aprovar novas medidas de arrecadação. Mas os números podem estar subestimados, já que consideram uma taxa de juros menor do que a atual. Nas expectativas de mercado, o endividamento ultrapassa 90% do PIB em 2029, sem horizonte de queda.A piora na trajetória da dívida acendeu o alerta para a equipe econômica. Mas, dentro do governo, há a percepção de que resistências políticas a medidas adicionais de revisão de gastos ou aumento de receitas serão um obstáculo.”No que diz respeito à Fazenda, é trabalhar o fiscal estruturalmente”, disse Haddad, quando questionado sobre como pretende tratar o endividamento público ascendente.A equipe econômica já sabe que precisará buscar novas receitas para fechar o Orçamento de 2025 —um debate que enfrenta resistência no Legislativo e ficou ainda mais delicado após a recente onda de fake news sobre taxação do Pix, desmentida pelo governo Lula.

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