Foto oficial do segundo mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos: republicano reassume a Casa Branca nesta segunda-feira
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Donald John Trump, 78, retorna à Presidência dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20). Encontrará um mundo bem diferente daquele de 20 de janeiro de 2017, quando teve início seu primeiro mandato (2017-2021).Os questionamentos à hegemonia americana são mais ruidosos. Adversários como Rússia, China e Irã estão mais próximos entre si. Os EUA estão profundamente envolvidos em dois conflitos de proporções globais, na Faixa de Gaza e na Ucrânia, e os resultados deles para os seus objetivos geopolíticos não são claros. E aliados europeus agem com ainda mais desconfiança em relação ao ex-apresentador de reality show que, mais uma vez, comandará o país mais poderoso do planeta.Mas se o mundo se tornou um lugar mais radicalizado, polarizado, perigoso e belicoso, o homem que chega novamente à Casa Branca teve uma evolução parecida.Deixando a Presidência sob a sombra da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, com um futuro político em xeque e um Partido Republicano que parecia prestes a ejetá-lo, Trump passou quatro anos reconstruindo sua relevância. Ele derrotou, um a um, rivais e acusações na Justiça, preparando o terreno para a maior volta por cima da história política americana das últimas décadas.Para fazer isso, alterou o seu discurso. Longe de ter conduzido uma gestão moderada em seu primeiro mandato, Trump apostou ainda mais nos “fatos alternativos”, expressão que não à toa foi cunhada por sua gestão. O 6 de Janeiro foi “um dia de amor”, e as pessoas que invadiram o Capitólio e pediram a cabeça de seu antigo vice, Mike Pence, eram patriotas. Imigrantes estão tornando insuportável a violência no país, ainda que segundo as estatísticas ela venha caindo desde a pandemia. O Exército precisa agir contra o “inimigo interno” da extrema esquerda.Trump ainda chega à Casa Branca apoiado por um grupo poderoso, o de bilionários do Vale do Silício —que inclui o dono do X, Elon Musk. O conjunto de empresários foi apontado pelo presidente Joe Biden como uma “oligarquia de não eleitos” no poder, algo preocupante segundo o democrata.Uma forma de explicitar a mudança pela qual passou Trump e entender a versão dele que agora chega ao poder é comparar os retratos oficiais de seus dois mandatos. O bilionário, tão hábil em produzir mensagens imagéticas que produziu uma quase instantaneamente ao erguer o punho depois de ser alvo de tiros, apresentou por meio de sua foto uma declaração mais eficaz do que muitos de seus discursos.Desapareceu o sorriso e a pose tradicional de presidentes americanos: o semblante agora é fechado, e a sobrancelha, arqueada, aparentemente numa tentativa de imitar a “mug shot” —como são conhecidas as imagens de registros dos detentos nos EUA— tirada quando ele se apresentou no caso que o acusava de tentar subverter o resultado das eleições de 2020.Para acompanhar a radicalização do líder, o movimento que o sustenta também aprofundou seus objetivos e possíveis métodos. “Muitas pessoas estiveram trabalhando nos planos de Trump para 2025 nesses quatro anos em que ele esteve fora do poder”, diz Jonathan K. Hanson, cientista político e professor da Universidade de Michigan.”E eles têm uma lista bastante clara de prioridades e políticas praticamente prontas para serem implementadas”, prossegue o professor.”Espera-se que Trump apresente uma ordem executiva para mudar as proteções de servidores federais, ou seja, um monte de servidores públicos poderiam ser demitidos.” Isso tornaria possível que Trump não apenas se cercasse de ministros cuja principal característica é a lealdade ao líder, como também que nomeasse asseclas para uma série de cargos técnicos responsáveis por decisões que, aos poucos, podem moldar como o governo americano funciona.Esse aparelhamento da máquina pública teria o objetivo de viabilizar prioridades e promessas de campanha de Trump —como, por exemplo, a de realizar deportações de imigrantes em uma escala que provavelmente alteraria a economia e a sociedade americanas de maneira irreversível se levadas a cabo.”Naturalmente isso terá consequências econômicas”, afirma Hanson. “Há empregadores que dependem da mão de obra de muitas pessoas que estão nos EUA irregularmente. E se você considerar o setor agrícola dos EUA, e quantas pessoas estão empregadas na colheita e assim por diante, haverá resistência. Uma coisa é falar sobre deportações em massa, outra coisa é fazer.””Vai levar muito tempo para o governo montar o tipo de sistema que poderia realmente promover isso”, afirma Hanson. Isso exige pessoal e cooperação de agentes estaduais, “o que não será fácil em alguns lugares”, acrescenta. “Haverá resistência.”Ainda assim, há vantagens que Trump poderá usar a seu favor. O Partido Republicano, hoje controlado por ele, tem maioria na Câmara dos Representantes e no Senado. Isso pode facilitar a aprovação de projetos, ainda que por uma margem apertada.Além disso, Trump herda uma economia em ótimo estado de Biden, opina Hanson. “Ele pode falar mal da economia de seus predecessores, como quando disse que as coisas eram um desastre sob [Barack] Obama. Mas isso era falso na época e é falso agora. O desemprego é baixo, a inflação é baixa. Esse contexto é ótimo para ele.”Quanto sucesso esse Trump que, radicalizado e fortalecido internamente, assume uma economia relativamente pujante terá em cumprir suas promessas provavelmente é algo que ficará claro em alguns meses.Os efeitos sobre a democracia americana de mais um mandato do homem que já quis utilizar as Forças Armadas contra manifestantes, entretanto, devem demorar mais tempo para serem totalmente compreendidos.