Um brasileiro natural de Minas Gerais foi apontado, junto com outras duas pessoas, como “terrorista global” na segunda-feira (13) pelo Departamento de Estado dos EUA. Ele é considerado um dos líderes de um grupo supremacista do aplicativo Telegram, denominado “Coletivo Terrorgram”.
Ciro Daniel Amorim Ferreira, além de ser um dos líderes, também era um dos administradores do grupo no aplicativo de mensagens, a principal ferramenta de comunicação utilizada pela organização terrorista. O “Terrorgram” opera como uma rede de ao menos 200 canais do Telegram, que produzem e compartilham coletivamente conteúdos radicais de extrema direita, promovendo ideologias neonazistas.
O neonazismo, entre outras ideologias extremistas, caracteriza-se por legitimar a ideia de que o colapso social é essencial para alcançar a desejada ordem racial ou ideológica.
Rede de supremacia
O “Terrorgram” foi tecnicamente definido por especialistas como uma rede transnacional online de extremismo violento com motivação racial e étnica. Como afirma o documento do Departamento de Estado dos EUA, obtido pelo infobae, “o grupo promove o violento supremacismo branco, instiga ataques contra supostos adversários e fornece orientação e materiais de formação sobre as táticas, métodos e alvos dos ataques, incluindo aqueles dirigidos contra infra-estruturas críticas e funcionários do governo. O grupo também glorifica aqueles que realizaram tais ataques”.
Os membros da rede também compartilham, segundo o documento, materiais para fabricar explosivos e armas em 3D. Segundo o Departamento de Estado, vários ataques podem estar ligados ao grupo. Isso inclui “um tiroteio em outubro de 2022 do lado de fora de um bar LGBTQI+ na Eslováquia, um ataque planejado em julho de 2024 a instalações de energia em Nova Jersey e um ataque com faca em agosto de 2024 a uma mesquita na Turquia”.
Papel do brasileiro
Em relação a Ciro Daniel Amorim Ferreira, o Departamento de Estado não revela muitos detalhes. Fontes revelam que o brasileiro já havia dirigido um espaço em Belo Horizonte (MG) “dedicado à promoção dos interesses e direitos das crianças e adolescentes por meio das tecnologias de informação e comunicação”, segundo a apresentação online.
Para a pesquisadora brasileira Michele Prado, diretora da ONG Stop Hate Brazil, que havia levantado o alerta em 2023 sobre a expansão do “Terrorgram” no Brasil, o grupo também utilizava outras plataformas.
Além do brasileiro, um croata, Noah Licul e um sul-africano, Hendrik-Wahl Muller, também foram parar na mira do Departamento de Estado como terroristas.
Ameaça à segurança
A entidade descreveu o Coletivo Terrorgram como uma “ameaça à segurança dos cidadãos americanos, à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.
No Brasil, o Stop Hate Brasil “identificou ligações entre membros do Terrorgram e subgrupos online prejudiciais que contribuíram para a radicalização de crianças e adolescentes, causando ataques violentos em ambientes escolares”, diz o relatório publicado na revista britânica The Lancet.
Entre 2001 e 2023, cerca de 60% dos ataques em escolas ocorreram nos dois últimos anos da pesquisa. Nesse período foram registradas 137 vítimas, 35 delas fatais, sem contar os agressores, todos eles homens, com idade entre 10 e 25 anos.
Em 95% dos casos, os estudantes foram mortos com armas de fogo. A Polícia Federal brasileira atribuiu ao Terrorgram e a propaganda divulgada na rede social a radicalização de um menino de 16 anos que, em novembro de 2022, vestido com símbolos neonazistas, matou quatro pessoas na cidade de Aracruz, no estado do Espírito Santo.