Mães, irmãs, mulheres e até sogras de traficantes do Comando Vermelho movimentavam valores, segundo as investigações. Mães, irmãs, mulheres e até sogras de traficantes do Comando Vermelho operavam a “Caixinha do CV” — alvo, nesta quarta-feira (15), de mais uma fase da Operação Torniquete. Até a última atualização desta reportagem, 12 pessoas haviam sido presas, e 3 foram mortas em confronto, segundo as autoridades.
Nos últimos anos, os agentes identificaram 5 mil movimentações financeiras que giraram em torno de R$ 21 milhões. De acordo comas investigações, familiares de bandidos presos recebiam semanadas e mesadas que variavam de R$ 200 a R$ 7 mil.
A polícia tentava prender, ao todo, 13 alvos. Havia um 14º mandado de prisão, mas o alvo foi morto em uma disputa de territórios com uma facção rival. Foram cumpridos 8 mandados de prisão e 4 presos em flagrante. Cinco seguem foragidos.
GIF – Caveirão derrapa em ladeira com óleo e bate em carros estacionados no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro
TV Globo/Reprodução
Burlando a investigação
A investigação identificou que, para movimentar o dinheiro, eram feitos depósitos e saques abaixo de R$ 10 mil e em dinheiro, e eram realizadas transferências sucessivas e de formas fracionadas.
Há também evidência de que eram usadas “contas de passagem”, com movimentação passageira de valores e saques em dinheiro para pulverizar as quantias. Assim, o dinheiro era lavado e a identificação da cadeia de transmissão e do beneficiário era dificultada.
De acordo com o MP, a “Caixinha do CV” funciona como uma “franquia”: chefes de pontos de venda de drogas nas comunidades dominadas pela facção pagam uma mensalidade e, em troca, têm acesso à marca da organização — podem usar a sigla CV — e aos fornecedores de entorpecentes, além de receber suporte logístico e apoio bélico.
Os valores arrecadados têm 2 destinos:
vão para os chefes do grupo criminoso, que se aproveitam deles e se tornam “barões do tráfico”, que constroem mansões nas comunidades do Rio;
e alimentar o fundo financeiro da facção.
Esse fundo teria quatro funções, aponta o Gaeco:
compra de arma, munição e drogas;
concessão de empréstimos e investimento em tomada de território e/ou recomposição financeira;
pagamento de pensão a integrante presos;
e pagamento de propinas a agentes públicos.
A operação desta quarta
As polícias Civil e Militar foram cedo para os complexos do Alemão e da Penha. Traficantes reagiram a tiros, ergueram barricadas e jogaram óleo no asfalto para impedir o avanço de blindados.
O repórter cinematográfico Betinho Casas Novas registrou o momento em que um Caveirão derrapa em uma ladeira no Alemão e quase atropela um morado. Ao descer descontrolado, o veículo atingiu 3 carros e 1 moto.
Em outro ponto do complexo, PMs tiveram de usar um maçarico para abrir caminho. Um trilho de trem foi improvisado como cancela e teve de ser partido a fogo. Retroescavadeiras também foram mobilizadas.
PM usa maçarico para romper barricada de trilho
Reprodução/TV Globo