Mulher que precisou parar de estudar após perder visão fala sobre superar dificuldades com braille: ‘Consegui concluir o ensino’


Dona Yara perdeu a visão ainda quando jovem, mas fez desse desafio uma nova página onde reescreve cada dia um capítulo na história da vida. Dona Yara descobriu atráves dos livros um mundo mágico e envolvente
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Ler: verbo composto por apenas três letras, mas que carrega um significado extraordinário na vida de muita gente. É por meio da leitura que conhecemos mundos fantásticos, voltamos ao passado e viajamos ao futuro. Para algumas pessoas, no entanto, o mundo não brilha apenas com o abrir dos olhos, mas pelos dedos, em um simples gesto de deslizá-los nas relevos dos livros.
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Apaixonada pelo mundo, pelas cores e pela leitura, Yara Cordeiro Domingues, de 53 anos, moradora de Sorocaba (SP), precisou reescrever o livro de sua vida após perder a visão ainda na adolescência.
Sem enxergar, dona Yara precisou abandonar os estudos, mas foi com a ajuda de uma associação para pessoas com deficiência que ela conseguiu se reencontrar ao aprender braile, um sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão.
“Eu aprendi braille quando estava na quarta série, mas acabei saindo da escola nessa época. Mais tarde, quando entrei em outra associação, aprendi braille novamente e adorei. Foi ótimo para mim, pois consegui concluir o ensino fundamental e o ensino médio”, conta.
Dona Yara mostrando uma página de livro em braille
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Quando morava próximo à Biblioteca de Sorocaba, Yara foi uma frequentadora assídua do local, sempre buscando ampliar seus conhecimentos e sua paixão pela leitura, incentivada por um professor que a ensinou cada traço do alfabeto braille, fazendo dos dedos uma regência em busca do saber.
Desde 2022, segundo a prefeitura, a biblioteca conta com um espaço inclusivo onde existe um acervo com 2.900 volumes de 990 títulos, entre livros impressos em braille, livros em fonte ampliada e audiolivros, para empréstimos ou utilização no local (saiba mais sobre o acervo), além de jogos adaptados, como damas, xadrez e quebra-cabeça.
“No começo, não foi tão difícil aprender os pontos do braille, porque as 10 primeiras letras do alfabeto contam mais do que as outras, que só precisam de pontos adicionais.”
Dona Yara acumula diversas obras lidas. As preferidas, conta, são histórias de aventura, como quem não teve medo de enfrentar o mundo.
“Li muitos livros, especialmente de aventura, que gosto muito. Eu consigo visualizar as histórias, então é uma experiência muito agradável. Também li livros de matemática e português”, conta.
Dificil acesso
Mas se há facilidades, dona Yara conta que também há dificuldades em acessar a Biblioteca Municipal, devido à avenida movimentada onde ela está localizada. Ela ainda relata que sua mãe teve um papel fundamental nesse descobrimento mágico da leitura, pois, quando ainda era viva, a acompanhava nas visitas à biblioteca.
“No entanto, depois que minha mãe faleceu, isso se tornou mais difícil, pois é um lugar complicado para um deficiente visual chegar”, comenta.
Entre tantos livros Dona Yara mostra também a Bíblia que tem escrita em braille
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Como emprestar livros em braile?
Entre os títulos disponíveis na Biblioteca de Sorocaba, destacam-se obras de grandes nomes da literatura brasileira e estrangeira, como Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Gabriel García Márquez e J.K. Rowling. Além dos livros tradicionais, a biblioteca disponibiliza audiolivros e oferece a possibilidade de consulta ao catálogo online.
Tecnologia a serviço da inclusão
Uma das grandes novidades da biblioteca é a disponibilização dos óculos “Orcam MyEye”, que transformam textos escritos em áudio, reconhecem cores e rostos. Essa tecnologia inovadora amplia o acesso à leitura para pessoas com deficiência visual, permitindo que elas explorem todo o acervo da biblioteca.
Além dos óculos, a biblioteca oferece um espaço inclusivo equipado com computador, ampliador automático e scanner com voz, que converte documentos impressos em áudio.
A Biblioteca Municipal “Jorge Guilherme Senger” está localizada na Rua Ministro Coqueijo Costa, 180, no Alto da Boa Vista. O atendimento ao público é de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. Para mais informações, entre em contato pelo telefone (15) 3228-1955 ou pelo e-mail [email protected].
*Colaborou sob a supervisão de Matheus Arruda
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