Grupo de dança contemporânea criado, em BH, pela família Pederneiras anuncia novo espetáculo, lançamento de livro e documentário sobre a trajetória. Grupo Corpo comemora 50 anos de existência
“É um trabalho com cara, cor, cheiro e gosto de Brasil, que fala português, e que é reconhecido por isso, aqui no Brasil e no mundo”, definiu o coreógrafo e cofundador do Grupo Corpo, companhia de dança contemporânea , que completou 50 anos nesta semana.
Desde a fundação, em 1975, quando fizeram da casa dos pais, no Bairro Serra, em Belo Horizonte, a primeira sede da companhia, os irmãos Pederneiras trabalharam para criar uma linguagem própria de dança, e com forte identidade brasileira. Mas que nunca ficou restrita ao local de criação.
Com 43 obras montadas, o Grupo Corpo rodou por 259 cidades, em 41 países, além do Brasil. Já na primeira, Maria Maria, que teve música composta por Milton Nascimento, viajaram por 14 países, na América do Sul e Europa. A montagem foi bancada por um empréstimo bancário, pago com folga logo que a turnê deslanchou. Graças ao sucesso do espetáculo, começaram a estruturar a companhia.
Balé do Grupo Corpo em momento de relaxamento
José Luiz Pederneiras/Divulgação
“Ainda bem que Maria Maria deu muito certo. Cada um ganhou uma bolada e depois estabelecemos um salário fixo para cada um. Todo dinheiro que sobrava, a gente investia na companhia, e assim é feito até hoje”, contou Rodrigo.
A empreitada familiar, que incluiu todos os seis irmãos – Paulo (diretor artístico e iluminador), Rodrigo (coreógrafo residente), José Luiz (fotógrafo), Míriam (diretora de projetos sociais), Pedro (diretor de engenharia) e Marisa -, e o modelo de negócio ‘pé no chão’ ajudaram a garantir a longevidade da companhia, mas não só (veja linha do tempo mais abaixo).
Paulo, José Luiz, Pedro, Rodrigo com a mãe, Isabel Pederneiras, na Casa da família, no Bairro Serra, em Belo Horizonte. Os pais foram morar de aluguel e cederam a casa para ser a primeira sede do Grupo Corpo, em 1975
Arquivo pessoal
“Uma forma nossa”
As influências sempre vieram do próprio grupo e dos artistas que convidam a cada obra. Entre as figuras cativas, a figurinista Freusa Zechmeister, que morreu no ano passado, e o cenógrafo Fernando Velloso. “Nunca cedemos às tendências. Íamos para o lugar que sentíamos vontade e não abríamos mão disso”, disse Rodrigo.
“Costumo dizer que nós começamos a cavar no nosso próprio quintal e quanto mais cavávamos, mais pérolas descobríamos. Foi assim que começamos a desenvolver uma forma mais nossa”, contou o coreógrafo.
Para o diretor, Paulo Pederneiras, a estética do Corpo vem de uma construção genuinamente concebida.
“Fazemos assim porque é o que somos. Sabemos que há vários sentimentos universais, mas existe o que é característico de cada região, cada povo, cada turma. É mais fácil, mais correto e, talvez, até mais honesto, a gente falar das coisas brasileiras do que lá de fora, que a gente não tem vivência”, disse.
Trilha original
Parabelo (1997) é a obra mais vista do Grupo Corpo. A trilha foi especialmente composta por Tom Zé e Zé Miguel Wisnik
José Luiz Pederneiras/ Grupo Corpo
A partir dos anos de 1990, com as obras Uakti e depois 21, o Corpo instituiu usar músicas especialmente compostas para os espetáculos. Assim, convidou dezenas de compositores brasileiros para criar as trilhas originais. Entre eles, José Miguel Wisnik, Tom Zé, João Bosco, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Samuel Rosa, Lenine, Arnaldo Antunes e Marco Antônio Guimarães. Como a música sempre foi o ponto de partida para a criação das coreografias, as trilhas construíram uma imagem forte na dança do Corpo.
“Nós fomos muito influenciados pelos músicos que convidamos. Muitos nunca tinham feito composições para a dança e, de repente, se viam um pouco perdidos, mas traziam ideias muito novas, que nós possivelmente não teríamos”, contou Rodrigo.
Requebrado próprio
Sem abandonar a técnica clássica, Rodrigo criou uma forma de ‘dançar à brasileira’, que mistura erudito e popular. Ele explica que os bailarinos do Corpo precisam saber saltar e girar, movimentos típicos do balé clássico, e ao mesmo tempo ter a sensualidade característica da dança popular brasileira.
“Quando você trabalha a movimentação a partir da bacia, o resto do corpo responde”, disse o coreógrafo.
Paulo disse que, “mesmo sem a intenção, o que seria até presunçoso, a linguagem corporal que o Rodrigo construiu ao longo destes 50 anos é nitidamente brasileira”.
O coreógrafo e cofundador do Corpo, Rodrigo Pederneiras, a coreógrafa Cassi Abranches, e o diretor e cofundandor, Paulo Pederneiras
José Luiz Pederneiras/Grupo Corpo
Meio século
Para celebrar meio século de história, o Grupo Corpo anunciou que vai lançar um livro e um documentário sobre a trajetória e um novo balé, cheio de novidades. Pela primeira vez, a trilha será assinada por uma mulher. A escolhida é a carioca Clarice Assad.
Também pela primeira vez, dois coreógrafos vão trabalhar separados em uma mesma montagem. Cassi Abranches, bailarina do Corpo por 12 anos e que coreografou a peça Suíte Branca, em 2015, está de volta à companhia, desta vez para ficar como coreógrafa residente. Ela vai dividir o trabalho com Rodrigo Pederneiras. A estreia está prevista para agosto, em São Paulo.
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