Dólar fecha em R$ 6,06 e Bolsa sobe, com posse de Trump e entrevista de Haddad
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O dólar fechou em leve alta de 0,16% nesta sexta-feira (17), cotado a R$ 6,064, com a posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e falas do ministro Fernando Haddad (Fazenda) no radar dos investidores.O republicano assume a Casa Branca já na segunda-feira, e a expectativa do mercado é sobre a política tarifária do novo governo em relação às demais economias globais. Já Haddad concedeu entrevista à CNN Brasil à tarde, na qual analisou o cenário econômico do país.A sessão foi de volatilidade para a moeda norte-americana, que passou boa parte do dia oscilando entre os sinais. Na mínima, atingiu R$ 6,028; na máxima, R$ 6,090.Já a Bolsa, em pregão estendido por causa do horário de verão nos Estados Unidos, tinha alta de 0,61% às 17h02, aos 122.024 pontos, com impulso da Vale.As atenções dos investidores estão voltadas aos Estados Unidos. A poucos dias do retorno de Trump à Casa Branca, a busca é por saber com que agressividade e rapidez serão implementadas as promessas do presidente eleito.Ainda candidato, Trump prometeu aplicar tarifas de 10% sobre as importações globais, além de outras de 60% para chinesas e de 25% para canadenses e mexicanas. Segundo especialistas em comércio, as medidas afetariam os fluxos comerciais, aumentariam custos e provocariam retaliações.O indicado de Trump para o comando do Departamento do Tesouro, Scott Bessent, foi ouvido pelo Senado na quinta-feira. A expectativa de analistas é que ele, um veterano de Wall Street, leve uma abordagem mais cautelosa para as políticas do novo governo.Bessent defendeu que o dólar continue sendo a moeda de reserva global e argumentou que a implementação de tarifas poderia ser um meio para se combater práticas comerciais injustas no exterior e uma ferramenta de negociação.Mas o principal temor do mercado em relação à política tarifária de Trump é sobre o efeito na economia doméstica dos Estados Unidos.As tarifas têm potencial inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. E, quanto mais altos os juros por lá, melhor para o dólar, que se torna mais atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro dos EUA crescem.O Fed, na última reunião de política monetária, em dezembro, sinalizou a possibilidade de uma interrupção no ciclo de afrouxamento. A taxa hoje está na banda de 4,25% e 4,5%, depois de três cortes em 2024 que somaram 1 p.p.Na quarta-feira, dados de inflação indicaram uma desaceleração nos preços ao consumidor em dezembro, o que aproxima a autoridade monetária da meta de 2%. Ainda assim, há um consenso entre os operadores de que o Fed manterá as taxas de juros inalteradas na reunião deste mês, entre 28 e 29 de janeiro.A probabilidade de uma manutenção marca 99,5% na ferramenta CME Fed Watch, e os 0,5% restantes precificam um novo corte de 0,25 p.p.”Continuamos vendo o dólar como fundamentalmente supervalorizado, mas, pelo menos no curto prazo, é difícil encontrar catalisadores que façam com que o dólar se enfraqueça”, disse Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management.Do outro lado do mundo, o Banco do Japão terá a primeira reunião de política monetária do ano na próxima semana. A expectativa é que as autoridades voltem a elevar a taxa de juros do país, o que pode impactar os mercados de câmbio.A China também é destaque. A segunda maior economia do mundo apresentou uma expansão acima do esperado no quarto trimestre do ano passado e atingiu a meta de crescimento do governo de 5% para 2024.”Em um dia de agenda um pouco mais fraca, os destaques foram para os dados econômicos chineses, que mostraram um desempenho melhor do que se esperava para o país”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado.O dado impulsionava as ações da Vale na Bolsa brasileira, em alta de 2,67%, na esteira da valorização do minério de ferro na Bolsa de Dalian.Já na cena doméstica, o mercado acompanhou a entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à CNN Brasil.O chefe da ala econômica do governo disse não enxergar um cenário de dominância fiscal no momento -termo usado para quando o BC (Banco Central) perde o controle sobre a trajetória da inflação em razão de uma forte expansão dos gastos públicos.Segundo Haddad, a política monetária terá efeitos sobre a inflação muito maiores do que o esperado. Ele também disse que é preciso criar condições necessárias para que os juros, hoje em 12,25% ao ano, não fiquem em um patamar elevado por muito tempo, e que a atual trajetória da dívida pública preocupa o governo.Em dezembro, o Tesouro Nacional projetou que a dívida bruta do Brasil pode atingir um pico de 83,1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2028, caso o Executivo falhe em aprovar novas medidas de arrecadação. Mas os números podem estar subestimados, já que consideram uma taxa de juros menor do que a atual. Nas expectativas de mercado, o endividamento ultrapassa 90% do PIB em 2029, sem horizonte de queda.A piora na trajetória da dívida acendeu o alerta para a equipe econômica. Mas, dentro do governo, há a percepção de que resistências políticas a medidas adicionais de revisão de gastos ou aumento de receitas serão um obstáculo.”No que diz respeito à Fazenda, é trabalhar o fiscal estruturalmente”, disse Haddad, quando questionado sobre como pretende tratar o endividamento público ascendente.A equipe econômica já sabe que precisará buscar novas receitas para fechar o Orçamento de 2025 -um debate que enfrenta resistência no Legislativo e ficou ainda mais delicado após a recente onda de fake news sobre taxação do Pix, desmentida pelo governo Lula.